13 outubro, 2009

Eia, pois, advogada nossa...


Um texto onde, em síntese, eu falo da fé, da fé que eu enxergo nos olhos de pessoas simples no dia de Nossa Senhora Aparecida (baseado em fatos reais):

Existem pequenos gestos e fatos que podem mudar, ou pelo menos ajudar a mudar, grandes coisas.

São gestos que saem fora do script, que ultrapassam a barreira do comum ou do lógico.

E não há lugar melhor para presenciar tais situações do que numa missa seguida de procissão numa cidade do interior de Minas Gerais.

O roteiro comum da missa, com seus ritos e liturgias, o roteiro comum da procissão, com seus fiéis e suas bandeiras, tudo isso pode ser modificado por uma pessoa.

A missa mal tinha começado e surge um senhor na frente do altar: sorriso no rosto, camisa meio desabotoada, calça batida, sapato velho, mas ainda assim, sorriso no rosto, aparência ruim, dando a impressão de que o resto do dia tinha sido vivido dentro de um bar ou coisa parecida, mas ainda assim, sorriso no rosto.

O “povo de Deus” misturava sua perplexidade e suas risadas durante toda a missa, o senhor continuava defronte ao altar, ora abafava as leituras com sua voz potente, ora aumentava o coro na hora das cantigas; ele estava ali, com sorriso no rosto e, sem saber, modificando toda aquela missa, que com certeza ficará marcada por muitos, como a este que vos escreve, por exemplo.

Finda a missa, sai a procissão, afinal é dia de Nossa Senhora Aparecida, protetora do Brasil, santa que tem a devoção de milhões de pessoas e sempre aglutina grande parte dessas pessoas na hora das procissões.

E dessa vez não foi diferente, cruz e velas guiavam a procissão rumo a uma outra igreja, longa procissão, marcada pelo terço, pelas cantigas e por mais...

Depois de muito andar a procissão enfim chegou a seu destino, o andor com a imagem de Nossa Senhora é carregado por vários fiéis, alguns mais fanáticos, que fazem promessa inclusive, mas quando o andor chegou um de seus quatro carregadores era ele: o senhor do sorriso nos lábios participou de toda missa e seguiu a procissão até seu destino final.

Poucos devem ter percebido esse detalhe, mas era ele, ele que sorria sempre, um sorriso que todos sabiam que não era de felicidade, nem de conforto, dava pra ver sua baixa condição social, mas então por que tanto sorria aquele senhor?

A resposta pode até ficar no ar para alguns, mas pra mim, romântica e ingenuamente eu acredito e digo: o nome disso é devoção!

Este senhor é apenas um de vários embriagados, degredados, sofridos que esquecem de todos os problemas e no dia de Nossa Senhora vão a missa, este em particular demonstrou toda sua devoção de uma maneira peculiar e incomum, apenas reforçando o batalhão dos devotos.

Mas além dele muitos outros semelhantes estavam presentes nessa mesma procissão; é algo que não requer muita explicação, só pode ser o que chamam de fé, é olhar nos olhos de senhores e senhoras e sentir a emoção, e ver esboços de lágrimas, e poder acreditar que esse sentimento é real.

Independente da crença de cada um, o dia 12 de outubro sempre será marcado por algo mágico, místico, e ouso dizer até que não é à toa que esse dia é o dia de Nossa Senhora e o dia das Crianças: existem senhores sorridentes que voltam a ter a pureza e a inocência de uma criança quando estão de frente para a Senhora Aparecida.

Rogério Arantes

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