19 outubro, 2009

Consciência e Diferença


Até hoje o Un Quimera nunca publicou textos que não fossem da minha autoria, mas chegou a hora!

O texto de hoje tem raízes sapucaienses como as minhas, mas tem caule e frutos itajubenses: primeiro pela citação do "Grande Guila" e depois porque seu autor, Guilherme Oraboni vive hoje em Itajubá e está cursando Engenharia Mecânica na UNIFEI.

Guilherme (outro membro da Nação rubro-negra) é um grande amigo que já foi parceiro em uma empreitada num jornal escolar pouco tempo atrás, e que ainda mantém vivo o hábito de escrever.

Afinal, engenheiros (alguns) também escrevem, aí vai:

Outro dia, remexendo em arquivos do meu computador, encontrei alguns vídeos da ditadura militar do Brasil perdidos em meio a vários clipes de música. Lembrei-me, então, do Guila, que foi quem os passou para mim no finalzinho de 2008, fase pré-vestibular. Guila, então meu professor de história, estava conversando conosco (havia mais uns quatro ou cinco gatos pingados na aula naquela última semana) e mostrou os vídeos.

Devo dizer que, certamente, é a parte da história que mais me interessa. Tanto que pedi para ele me passar os vídeos. O fato é que vi os vídeos e comecei a assistir um que falava dos efeitos do AI-5 na cultura brasileira. No meio do vídeo, citava-se o Manifesto elaborado pela Aliança Libertadora Nacional (ANL) em 1969, pelo seqüestro do embaixador dos EUA no Brasil Charles Burke Elbrick. ANL, aliás, formada pelo atual político José Dirceu...

Por mera curiosidade, fui procurar o tal manifesto na Internet. Pensando se tratar de um texto com ideais revolucionários e a favor do povo, para o povo. Surpreso, me decepcionei. Mais, fui tomado inclusive por um sentimento de revolta. Nele, o autor (no caso, todo o grupo, pois nenhum dos “revolucionários” assinou o manifesto) se orgulha pelos atos de vandalismo e contra a lei cometidos a favor da “revolução”. Transcrevendo as palavras do Manifesto, “assaltos a bancos, nos quais se arrecadam fundos para a revolução, tomando de volta o que os banqueiros tomam do povo e de seus empregados; ocupação de quartéis e delegacias, onde se conseguem armas e munições para a luta pela derrubada da ditadura; invasões de presídios, quando se libertam revolucionários, para devolvê-los à luta do povo; explosões de prédios que simbolizam a opressão; e o justiçamento de carrascos e torturadores.”

Em outro trecho, o manifesto diz que a ANL quer “mostrar que é possível vencer a ditadura e a exploração, se nos armarmos e nos organizarmos.” Isso me lembra, ainda, uma fala de Nelson Rodrigues: “Eu amo a juventude como tal. O que eu abomino é o jovem idiota, o jovem inepto, que escreve nas paredes "É proibido proibir" e carrega cartazes de Lenin, Mao, Guevara e Fidel, autores de proibições mais brutais.”

É preciso discernir bem se a revolução fará bem ao país. O próprio termo “revolução” é carregado por jovens do mundo todo como um lema, uma palavra-chave. Porém, a que preço? Os idéias da ANL eram louváveis: a própria queda do regime autoritário, em reforma agrária, queda da repressão cultural, fim do arrocho salarial. Porém, basta jogar fogo contra fogo? No próprio texto, a última frase afirmava que “Agora é olho por olho, dente por dente.” Vale a pena usar dos próprios meios utilizados pela ditadura para conseguir a liberdade? Me parece um equívoco, uma contradição, usar técnicas que abominamos a nosso favor.

É de se pensar, portanto que, caso conseguisse sua meta, o governo da ANL não seria muito diferente do praticado pelos militares. O próprio fato de terem seqüestrado o embaixador americano, tal qual era feito pelos militares com quem se opunha a seu governo. Depois, vários apoiadores do regime militar subiram ao poder, mesmo depois do fim da ditadura. Fernando Collor foi um deles. Com apoio da grande mídia, concedida pelos militares a quem lhes convinha, acabou deposto pelos próprios meios que o elegeram.

A frente de oposição se transformou no que hoje é o PT e seus aliados. Claro que todos são contra a ditadura atualmente, mas as origens são essas. E é lá que está José Dirceu. Lá no governo, no poder. Fica então a pergunta: qual a diferença entre a oposição e o governo? Eles utilizam, desde a década de 60, aliás, desde a república nova, das mesmas táticas para subir ao poder.

Não digo, de forma estereotipada, que os políticos “não prestam”, “são uma corja de corruptos”, entre outras expressões tão comuns. Digo apenas que deve-se pensar bem em quem se elege. Como dito no início do vídeo do meu professor do colegial, “Relembrar é manter-se vivo!”

Guilherme Oraboni

*a foto é de um plasma.

Nenhum comentário: