31 janeiro, 2010

Os "acontecimentos" de janeiro/2010

O primeiro mês do ano chega ao fim, chegou a hora dos primeiros "acontecimentos"
de 2010:

África

Dia 8 de janeiro, sexta-feira, vésperas da abertura da CAN, a Copa das Nações Africanas, uma espécie de Copa América do continente africano, que sempre se realiza no mês de janeiro da Copa do Mundo.

Tudo muito bom, tudo muito bem, até que, na fronteira entre o Congo e Cabinda (Angola), o ônibus (veja bem, ônibus) da seleção de Togo é metralhado por um grupo separatista de Cabinda.

O "acontecimento" em si já é terrível e merece toda a mobilização, porém foram as consequencias desse ato que pioraram ainda mais a situação.

A primeira, de imediato, foi o saldo do tiroteio: Dois jogadores, Akakpo e Obilalé foram baleados, um médico, um auxiliar técnico e um jornalista também foram feridos.

Segunda consequencia: na minha opinião com toda a razão, após o incidente a Seleção de Togo se retirou da competição. Se viajar já está tão perigoso para eles o que dirá entrar em campo?

Mas a pior de todas as consequencias é o clima de medo e polêmica que se instalou no meio do futebol após o "acontecimento".

A questão da segurança para a Copa do Mundo, que se realizará daqui a seis meses praticamente passou a ser abordada de uma maneira diferente, com grande parte da opinião pública, principalmente a europeia, vendo com receio a realização do maior torneio de futebol em solo africano.

Como resposta a isso, vários representantes de entidades como a FIFA e a Federação de Futebol da África do Sul, afirmar que "a África do Sul é diferente de Angola", o dirigente Rich Mkhondo chegou até a afirmar que: "O ato de terror não tem nada a ver com a situação na África do Sul. É como se fôssemos comparar um incidente na Tchetchênia com a situação no Reino Unido"

Pois então, acredito que tudo isso seja verdade, a África do Sul é um país destoante dentro de todos os países africanos e têm condições de propiciar uma segurança bem maior na Copa do Mundo.

Porém, como disse o presidente da Liga Alemã de Futebol, Reinhard Rauball, "Não podemos simplesmente confiar na frase "a África do Sul é diferente de Angola." Precisamos pensar como obter o controle das questões de segurança."

A não realização da Copa do Mundo na África do Sul seria algo muito ruim para o país, para a FIFA e talvez para muitas outras pessoas, por isso condeno isso, mas a segurança dentro da Copa do Mundo, na África do Sul, tem que ser levada a sério.

E o mais importante, seja dentro ou fora de campo, Paz no futebol! Isso é apenas um jogo, pessoal!

"Dentre as coisas menos importantes, o futebol é a mais importante."

Haiti
Dia 12 de janeiro, terça-feira, um terremoto com epicentro a 15 km da capital haitiana, Porto Príncipe, e com 7 graus de magnitude na escala Richter abala totalmente o Haiti.

Esse foi, de longe, o grande "acontecimento" do mês e talvez um dos maiores desse ano de 2010.

Imagens e vídeos mostram cenas fortes de como está a situação lá: mortos, desabrigados, brigas por comida e por aí vai, é muito triste tudo isso.

De imediato várias pessoas se mobilizaram e começaram a ajuda ao Haiti.

A Minustah (Missão de Estabilização da ONU no Haiti), comandada por soldados brasileiros, já estava no país há algum tempo e agora tem tido mais serviço ainda.

Sobre tudo isso acho que não adianta falar muito, a toda hora se falou sobre isso durante as primeiras duas semanas após o terremoto, portanto, todo mundo pelo menos já deve ter ouvido falar sobre o assunto.

Queria discutir aqui era exatamente isso.

Passaram-se duas semanas e parece que todos esses problemas que assolam o Haiti também passaram.

Não se fala mais nisso, a grande mídia, depois de noticiar o terremoto e suas primeiras consequencias, parece que se esqueceu de tudo isso e voltou seu foco para outros assunto bem menos importantes.

Acho que a melhor manifestação desse sentimento está no texto de um mestre: Alberto Dines, reproduzo ele aqui:

O Haiti já não existe, este foi o título de primeira página de domingo (17/1) no jornal espanhol El País. Ruíram ou foram soterradas pelo sismo as precaríssimas instituições do Estado.

Não se sabe e nunca se saberá quantos haitianos morreram. Qualquer estatística será enganosa, as divergências entre o número de vítimas (de 40 mil a 120 mil) talvez seja o aspecto mais aterrador da situação: nenhuma autoridade, municipal ou estatal, é capaz de assumir responsabilidades, tomar decisões e determinar providências, exceto o comando brasileiro da missão da ONU que se encarrega da segurança e os americanos que coordenam a ajuda humanitária.

Uma catástrofe sem dados, sem termos de comparação, um apocalipse sem gráficos, infográficos, baseado em fotos dantescas e histórias individuais horripilantes, anônimas, mudas, sem lágrimas – quanto tempo conseguirá a mídia internacional manter aquilo que foi o Haiti nas manchetes e na "escalada" da mídia eletrônica?

E nossa solidariedade, quanto durará?

Nossa compulsão para driblar tragédias, principalmente as distantes, quando começará a se impor ao dever humanitário de compartilhar sofrimentos?

Volta à rotina

Estamos no verão, temporada de férias, prazeres, os anunciantes querem a cobertura dos desfiles de moda, a São Paulo Fashion Week está aí, almas machucadas pela dor resistem aos impulsos compristas e a mídia adora bolhas, vive delas. Logo, logo, voltaremos às abobrinhas e irrelevâncias, à fleuma e ao burocratismo.

A revista IstoÉ minimizou o Haiti na capa, no domingo o Estado de S.Paulo acabou com o caderno haitiano e passou a cobertura para as páginas internacionais.

As tragédias em Angra dos Reis, Ilha Grande, São Luiz de Paraitinga e Porto Alegre aconteceram há 18 dias, e no último fim de semana já não haviam evaporado.

Enterrados os mortos, estabelecido algum tipo de rotina em Porto Príncipe, o que restou do país terá ainda menos interesse. A indústria da notícia – ou circo da notícia – não suporta continuidades.

E pra fechar a canção de Caetano Veloso e Gilberto Gil, antiga, que refletia outro momento, mas que serve para o momento atual também, logo que vi as notícias do terremoto, me veio na cabeça: "o Haiti é aqui...":


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