04 abril, 2009

Lindíssimo!

Dom Casmurro talvez seja o melhor livro da história da literatura brasileira.

A enorme dúvida sobre a traição ou não de Capitu é algo que chega a assustar, pelo menos na minha opinião, criar uma trama dessas e deixar essa dúvida no ar é coisa para poucos, salve, salve Machado de Assis.

Cada um tem seu ponto de vista e, pra mim, Capitu traiu sim o Bentinho, aqui vai a minha tese sobre o assunto, recheada de citações do próprio livro (o título do post por exemplo, faz referência ao último superlativo dito por José Dias), ou seja, pra quem ainda não leu o livro e não conhece direito a história é melhor nem ler o post, mas pra quem já leu acho interessante dar uma olhada...

Aí vai:

Os olhos de ressaca são universais: por mais que apontem a excessiva casmurrice de Bento como a principal evidência da traição de Capitu, e esta evidência não tenha nenhuma verossimilhança, a grande culpa de Capitu é natural, não pode e nem precisa ser explicada.

Quando Bentinho diz: Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia nos dias de ressaca, são palavras de um adolescente apaixonado em sã consciência, não é o casmurro e quase suicida Bento que disse e sentiu isso, portanto, nenhuma associação entre a narração em primeira pessoa e a culpa de Capitu pode ser feita quando se leva em conta este fragmento em particular.

Daí fica fácil pensar que além de Bentinho, eterno namorado de Capitu, outros homens poderiam ser tragados por essa ressaca.

E o melhor amigo de Bentinho, Escobar, pode ter sido um desses homens.

O próprio Escobar, explica a simplicidade da natureza, garantindo a Bentinho que: as idéias aritméticas são mais simples, e, portanto mais naturais. A natureza é simples. A arte é atrapalhada.

E a natureza dos olhos de Capitu podem ter atraído Escobar sim, de uma maneira bem simples, tão simples quanto a catástrofe do mar da praia do Flamengo, que levou Escobar para os estudos geológicos nos campos santos e deixou a grande dúvida.

Porém volto a afirmar que os olhos de ressaca podem esclarecer essa dúvida.

O momento em que Bento vê esses mesmos olhos de ressaca derramarem incessantes lágrimas para Escobar marca o começo da “loucura” de Bento.

A parir daí ele se afunda em ciúmes, tenta o suicídio e acaba solitário pensando na História dos Subúrbios.

Aí ele começa a tentar criar culpas para Capitu e a mais usada é a enorme semelhança entre Escobar e Ezequiel, este último torna-se um fantasma do outro para Bento e Capitu, mas não pode ser considerado uma prova da culpa de Capitu, a genética possui infinitas variações e semelhanças podem ser apenas coincidências.

Só que antes de toda essa paranóia, já existiam dois olhos de ressaca que fizeram Bentinho desistir da vida eclesial e que podem ter feito muitas outras coisas.

As comparações com os bustos de Nero, Augusto, Massinissa e César e com a obra shakespeariana Otelo, o Mouro de Veneza são válidas, mas em todos esses casos a
inocência prevaleceu, Machado de Assis não copiou nada disso, apenas recordou e em sua obra modificou, em sua obra criou a dúvida e não permaneceu com a inocência.

“Tu serás feliz, Bentinho!”

Feliz e inocente ele era quando dizia:

Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!
Ganha-se a vida, perde-se a batalha!

Realmente. Bento Santiago (com uma ponta de Iago) perdeu a batalha, José Dias, Escobar, Ezequiel e etc. perderam a vida, já Capitu, também perdeu a vida, mas foi ela quem mudou tudo: quem casou, quem amou, e, principalmente, quem olhou.

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